Estava eu na sede da Associação Brasileira de Imprensa, lá em São Paulo, quando
conheci um velho jornalista aposentado. Eu disse a ele, como interiorana que eu
era, que a qualidade que eu mais apreciava num jornalista era a imparcialidade.
Ele riu da minha ingênua convicção:
- Minha filha, você acha que, se eu fosse um jornalista honesto,
teria conseguido educar meus cinco filhos como eduquei? Claro que eu recebia
dinheiro dos políticos para não noticiar isto ou aquilo!
Foi a minha primeira decepção. Eu estava morando em Jacareí e, além
de ser correspondente de uma rede de
jornais do Vale do Paraíba, auxiliava meu amigo Ulisses na direção do
Diário de Jacareí. Ele era honesto, esforçado, viajava todo
santo dia para São Paulo a fim de cursar a Faculdade de Jornalismo Casper
Líbero.
Ulisses formou-se, mudei-me para Mogi das Cruzes e cerca de um ano depois voltei a
Jacareí, procurando por ele. Disseram-me que era fácil encontrá-lo no Mercadão, onde ele havia montado
uma padaria. Achei-o logo na entrada principal, numa bela padaria. Estava lá, com o sorriso amigo e cativante de
sempre.
- Ulisses, Ulisses, o que você fez com seu diploma de jornalista?
Não chegou a usá-lo?
- Sim, usei, trabalhei. Mas descrobri que jornalismo não era aquilo
que nós pensávamos. Imparcialidade é conversa mole pra boi dormir. Quando a gente sai da redação de um grande
jornal para cobrir um acontecimento, já sai sabendo o que pode e o que não pode escrever. Fiquei chateado e
resolvi seguir a profissão de meu pai, que sempre foi comerciante. E me dei bem, tenho outras padarias por aí, as
minhas filiais.
Fiquei chocada. Eu, que sempre quis cursar jornalismo mas meu pai
não deixava porque, naquele tempo, "não era profissão para mulher", continuei
como cronista, até que resolvi escrever meu primeiro romance e tornei-me
escritora, coisa com a qual nunca sonhei. Pois é.
Ana Suzuki
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